Como vejo o mundo
Autor: Albert Einstein (1879 - 1955), físico alemão.
Gênero: Filosofia
Ano: 1949

Alguns trechos do livro
“Sonho ser acessível e desejável para todos uma vida simples e natural, de corpo e de espírito.” (p. 9)
“(…) o bom senso dos homens é sistematicamente corrompido. E os culpados são: escola, imprensa, mundo dos negócios, mundo político.” (p. 12)
“Defino uma sociedade sadia por esse laço duplo. Somente existe por seres independentes, mas profundamente unidos ao grupo. Assim, quando analisamos as civilizações antigas e descobrimos o desabrochar da cultura européia no momento do Renascimento italiano, reconhecemos estar a Idade Média morta e ultrapassada, porque os escravos se libertam e os grandes de espírito conseguem existir.” (p. 15)
- hoje em dia, a organização mecânica substitui o homem inovador.
“Todas as ações e todas as imaginações humanas têm em vista satisfazer as necessidades dos homens e trazer lenitivo a suas dores.” (p. 19)
Religião primitiva (Deus provedor) e religião moral (sentimentos sociais) X religiosidade cósmica
Schopenhauer - textos que ajudam a decifrar o budismo
Religião cósmica é o móvel mais poderoso de pesquisa científica.
Do sábio. “A moral não lhe suscita problemas com os deuses, mas simplesmente com os homens. Sua religiosidade consiste em espantar-se, extasiar-se diante da harmonia das leis da natureza, revelando uma inteligência tão superior que todos os pensamentos humanos e todo seu engenho não podem desvendar, diante dela, a não ser nada irrisório.” (p. 23)
Século XVII - uso universal da língua latina consolidava a comunidade de cientistas e artistas da Europa. Depois, as paixões nacionais destruíram essa comunidade
Comparar o espírito da juventude em diferentes épocas.
EDUCAÇÃO: “Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto.” (p. 29)
- compreender a motivação do homem para saber seu lugar na comunidade.
“Antigamente os povos viviam sem se conhecerem mutuamente, tinham receio uns dos outros ou até mesmo odiavam-se reciprocamente. Que o sentimento de compreensão fraterna lance cada vez maiores raízes nos povos.” (p. 31)
Nossos objetos de estudo são herança do passado. “Deste modo, somos mortais imortais, porque criamos juntos obras que nos sobrevivem.” (p. 32)
“(…) se o Estado exige uma abnegação do indivíduo, se tem esse direito, em compensação deve dar ao indivíduo a possibilidade de um desenvolvimento harmonioso.” (p. 41)
“(…) o destino da humanidade repousa essencialmente e mais do que nunca sobre as forças morais do homem. Se quisermos uma vida livre e feliz, será absolutamente necessário haver renúncia e restrição.” (p. 64)
“Raros são aqueles que olham com os próprios olhos e sentem com a própria sensibilidade. Unicamente estes poderiam evitar que os homens venham de novo a mergulhar no clima de apatia, hoje proposto como inelutável a uma desorientada massa.” (p. 67)
“O Estado deve ser nosso servidor e não temos a obrigação de ser seus escravos.” (p. 74)
“Não é pavoroso ser constrangido pela comunidade a realizar atos que cada um, diante de sua consciência, considera criminoso?” (p. 78)
EXPLICAÇÃO DA CRISE
Superprodução real (produz-se mais do que o necessário)
X
Superprodução aparente (produtos faltam ao consumidor mas este não tem $$ para comprar)
-Responsável: progresso técnico, que poderia liberar os homens do trabalho necessário à vida, é o responsável pela crise
- solução: planificação econômica da produção e da distribuição dos bens de consumo na comunidade (experiência tentada na Rússia)
- reduzir o trabalho semanal para extirpar o desemprego
- fixar salário mínimo em correspondência com o poder de compra/produção
- em casos de monopólio, o Estado controlará os preços
“Vejo um vício capital na liberdade quase ilimitada do mercado de trabalho paralelamente aos progressos fantásticos dos métodos de produção”. (…) Sei que os economistas liberais afirmam que o acréscimo das necessidades compensa a diminuição da mão de obra. Sinceramente, não o creio. E mesmo que fosse verdade, esses fatores resultarão e que grande parte da humanidade verá diminuir de modo anormal seu padrão de vida.” (p. 96)
Substituir o padrão ouro por uma equivalência com base em quantidades determinadas de mercadoria.
“Nas atuais circunstâncias, poder-se-á pensar em meios de se salvar, quando nós próprios criamos as condições de nossa morte? Todos, e em particular os responsáveis pela política dos Estados Unidos e da URSS, devem chegar a compreender que, de fato, venceram um inimigo exterior, mas não são capazes de se livrar da psicose gerada pela guerra.” (p. 100)
- a coexistência pacífica se baseia na confiança mútua.
- invés de discutir sobre o modo de vida dos americanos e dos russos, pensar quais instituições e tradições são úteis ou prejudiciais ao homem.
JUDAÍSMO: trata da moral (atitude na e para a vida). Não é uma relação transcendente, ocupa-se da vida que se leva (carnal). Animais são incluídos (comunidade dos vivos é percebida como um ideal). Maravilhar-se diante da majestade e da beleza do mundo.
Avaliar a temperatura do nível moral no mundo político. “Que poderia haver de mais revelador para avaliar a qualidade da moral política e do sentimento de justiça que a atitude das nações diante de uma minoria indefesa, cuja única singularidade consiste em querer manter uma tradição cultural?” (p. 116)
- tradição judaica: justiça e razão (Spinoza e Karl Marx)
- elogia Bernard Show (escritor) porque escreve sobre a moral, ganhando a afeição e estima dos homens
Sobre a realização sionista: “(…) nossa meta não é a criação de uma comunidade política, mas que nosso ideal fundado na antiga tradição do judaísmo, se propõe a criação de uma comunidade cultural, no sentido mais amplo do termo. Para consegui-lo, temos de resolver, nobremente, publicamente, dignamente, o problema da coabitação com o povo irmão dos árabes.” (p. 123)
- objetivo: retomar a consciência de sua existência, de sua nacionalidade (já que se adaptaram muito às culturas às quais integraram, mas sem nunca deixar de ser vistos como estrangeiros).
“O que há de melhor no homem somente se desabrocha quando se desenvolve em uma comunidade.” (p. 130)
“O esforço para unir sabedoria e poder raramente dá certo e somente por tempo muito curto.” (p. 134)
“A alegria de contemplar e de compreender eis a linguagem a que a natureza me incita.” (p. 135)
ESTUDOS CIENTÍFICOS
“(…) em primeiro lugar, com Schopenhauer, imagino que uma das mais fortes motivações para uma obra artística ou científica consiste na vontade de evasão do cotidiano com seu cruel rigor e monotonia desesperadora, na necessidade de escapar das cadeias dos desejos pessoais eternamente instáveis.” (p. 138)
“A suprema tarefa do físico consiste, então, em procurar as leis elementares mais gerais, a partir das quais, por pura dedução, se adquire a imagem do mundo. Nenhum caminho lógico leva a tais leis elementares. Seria antes exclusivamente uma intuição a se desenvolver paralelamente à experiência.” (p. 140)
“A perseverança diária não se constrói sobre uma intenção ou um programa, mas se baseia numa necessidade imediata.” (p. 141)
Física teórica: conceitos e leis fundamentais saem da experiência.
(…) a justificação de um conceito físico repousa exclusivamente sobre sua relação clara e unívoca com os fatos acessíveis à experiência.” (p. 155)
“E no entanto, na consciência e na imaginação dos físicos, o espaço conservou até os últimos tempos o aspecto de um território passivo para todos os acontecimentos, estranho ele mesmo aos fenômenos físicos.” (p. 169)
“(…) ideal científico por excelência: reunir, por dedução lógica, graças a um mínimo de hipóteses ou axiomas, um máximo de experiências.” (p. 171)
“Por despertar a idéia de causalidade e de síntese, a pesquisa científica pode fazer regredir a superstição. Reconheçamos, no entanto, na base de todo o trabalho científico de alguma envergadura, uma convicção bem comparável ao sentimento religioso, porque aceita um mundo baseado na razão, um mundo inteligível.” (p. 209).
“No momento atual, em que situação do corpo social da humanidade se encontra o homem de ciência? Em certa medida, pode felicitar-se de que o trabalho de seus contemporâneos tenha radicalmente modificado, ainda que de modo muito indireto, a vida econômica por ter eliminado quase inteiramente o trabalho muscular. Mas sente-se também desanimado, já que os resultados de suas pesquisas provocaram terrível ameaça para a humanidade. Porque esses resultados foram apropriados pelos representantes do poder político, estes homens moralmente cegos. Percebe também a terrível evidência da fenomenal concentração econômica engendrada pelos métodos técnicos provindos de suas pesquisas. (…) A concentração do poder político e econômico nas mãos de tão poucas pessoas não acarreta somente a dependência material exterior do homem de ciência, ameaça ao mesmo tempo sua existência profunda.” (p. 211).
Se não tivesse vindo da biblioteca do meu cunhado, dificilmente este livro teria chegado às minha mãos. Nunca pensei que o grande físico, autor da teoria da teoria da relatividade (um dos pilares da física moderna) tivesse escrito sobre questões sociais.
Nos quatro primeiros capítulos, o autor problematiza temas como educação, política e economia, propondo idéias para a construção de uma sociedade melhor. Ele considera o ser humano no âmbito coletivo em duas esferas: o papel de cada indivíduo no grupo e o papel do Estado nas relações humanas. Segundo Einstein (no último capítulo, destinado aos estudos científicos), a justificação dos conceitos físicos deve repousar sobre a experiência, ou seja, o "juiz" da validez da teoria é sempre a prática. Da mesma forma, é através de uma reflexão ética de si mesmo que Einstein analisa essas duas esferas, percebendo-se como parte do coletivo de seu tempo e analisando a atuação do governo.
Tendo vivido na época da Segunda Guerra, esteve estritamente ligado a essa por ser judeu e porque suas descobertas possibilitaram a construção da bomba atômica, temas que aparecem em suas cartas e conferências. Sobre o judaísmo, aborda tanto o aspecto religioso, falando sobre a moral do povo judeu, quanto o aspecto político, discorrendo sobre um possível acordo entre judeus e árabes.
Quanto à Guerra, revela ser extremamente pacifista, frisando a necessidade do estabelecimento de um acordo de paz entre as nações. Talvez sua preocupação com a guerra seja uma tentativa de se defender. Isso porque a elaboração de sua equação mais famosa, E= mc2, foi a chave que possibilitou a construção da bomba atômica. Quando Einstein percebeu isso, escreveu uma carta ao presidente Roosevelt, alertando sobre a possibilidade dos alemães construírem uma arma de destruição em massa, o que levou à criação do projeto Manhattan e às bombas que destruíram Hiroshima e Nagasaki. O que deveria ser uma solução acabou provocando outros danos, o que levou Einstein a escrever uma carta lamentando sua decisão.