Os parceiros invisíveis
Autor: John A. Sanford (1929 - 2005), analista junguiano e bispo norte-americano
Gênero: Psicologia analítica
Ano: 1987

A psicóloga da minha irmã emprestou-lhe este livro e nesse meio tempo pensei: por que não? Achei a leitura muito agradável e forma do autor de apresentar os conceitos bem didática, tornando o texto acessível inclusive àqueles que não possuem conhecimento prévio da teoria junguiana.
O livro trata da anima e do animus (arquétipos feminino e masculino), que possuem aspectos negativos e positivos mas que, definitivamente, nos ajudam a perceber o caminho em direção ao nosso auto-desenvolvimento. O autor também apresenta ferramentas muito úteis que podem nos auxiliar nesse processo, como a "imaginação ativa".
Interessante tanto para aqueles que estão em um relacionamento estável quanto para os que não estão.
Alguns trechos do livro
- Andrógino = andros (homem) + gynos (mulher)
- Hermafrodita = hermes + afrodite (duas características sexuais)
- Jung = anima (componente feminino) e animus (componente masculino). Origem: animare (almas ou espíritos animadores)
- ARQUÉTIPOS = blocos essenciais da construção da estrutura psíquica. Padrões de comportamento comuns à toda espécie humana (típicos)
- Chineses – I Ching Yang= brilho do sol, criatividade, céu = masculino
Yin = terra, escuro, receptivo = feminino
- Sombra = características indesejadas e não desenvolvidas
- Projetamos a anima e o animus em figuras mitológicas, em outras pessoas...
- reconhecer as projeções é uma forma de autoconhecimento (espelho)
- Anima e animus possuem aspectos + e – que podem ser projetados
Capítulo 2 – Aspectos negativos
- Poder da anima pode dilacerar a consciência masculina, reduzindo-a à sua natureza mais baixa (apetite pelo sexo e pelo prazer).
- o herói é o homem que fica plenamente exposto à anima e seus efeitos mas se acha psicologicamente esclarecido.
- Quando o animus possui uma mulher, destrói os relacionamentos humanos e os valores de eros; para destruir os efeitos mortais de eros, a mulher precisa estar cheia de um espírito + poderoso que o animus destruidor
- Anima está em ação quando as emoções e afetos estão agindo no homem. “Ela intensifica, exagera, falsifica, mitologiza os relacionamentos emocionais”. Quando o homem sabe o que está sentindo e pode expressar isso no relacionamento, seus problemas ficam fora do alcance da anima.
- O homem não deve ficar calado, com medo de despertar a ira da mulher ou de ser rejeitado. Ele falar o que pensa dela demonstra que ele dá importância a ela e ao seu relacionamento.
- a passividade do homem é o que provoca a eclosão do animus (dominação) na mulher.
- Anima deve representar o papel entre o consciente e o inconsciente e não entre o homem e outras pessoas.
- ANIMA= emocionalidade feminina inferior
- ANIMUS= lógica masculina inferior.
- Animus – críticas e julgamentos “universais” que não provém do modo específico da mulher de pensar e sentir.
- podem roubar a criatividade da mulher, por introduzir pensamentos que a impedem de realizar-se
- age como perseguidor e juíz apontando os erros e as faltas.
- funciona como uma cadeia autônoma de pensamentos com uma lógica estranha. Quase-lógico, mas suas conclusões e críticas são estúpidas e mesquinhas, não estando relacionadas com a realidade emocional da situação. Manifesta suas opiniões com ar de autoridade.
- como nossa sociedade atual tende a supervalorizar o masculino, o princípio de unir e sintetizar, as intuições e os sentimentos femininos são desvalorizados.
- se o animus não for enfrentado e desafiado, acaba anulando a verdade psicológica que a mulher possui.
- A anima e o animus tomam a situação quando o homem e a mulher não podem expressar seus sentimentos por si mesmos
- importancia de descobrir a causa da ferida
- “A pessoas está sempre no escuro quando se trata de sua própria personalidade. Ela precisa do auxílio de outras pessoas para se conhecer a si própria” (Jung).
- Escolhemos parceiros que representem algo que precisamos entender de nós mesmos.
Capítulo 3- Aspectos positivos
- Anima experimentada como mau humor e depressão na meia idade indica o novo caminho que ele deve seguir. Se ele a ouvir, ela se tornará sua aliada. Se ele a ignorar, ela se voltará contra ele.
Da mesma forma que a anima indica que o homem deve seguir o caminho espiritual, o animus indica que a mulher deve seguir o caminho do logos. Ajudamos muito mais quando nos voltamos para a anima e para o animus que quando fugimos deles.
- imaginação ativa – técnica para dialogar com a anima e com o animus.
- Têm a função de construir uma ponte entre o ego e o inconsciente coletivo.
- A ânima é como a alma para o homem, que lhe dá imaginação, emoção e criatividade. Coração. Função que desperta o Eros no homem.
- 4 estágios da anima: Eva (biológico/instintual), Helena (beleza e alma), Virgem Maria (relacionamento com Deus) e Sofia (relacionamento com a sabedoria elevada).
- é a anima ou o homem quem se desenvolve nesses estágios?
Inconsciente Mundo externo
Assim como a persona é a máscara que nos ajuda a relacionar-nos com o mundo exterior, a anima/animus tem a função de nos ajudar na relação com a realidade interior.
Só quando temos um relacionamento correto com a persona podemos ter um bom relacionamento com a anima/animus.
- Em sua forma real, o animus é um herói. Logos, discriminação, compreesão, objetividade.
- figura de um homem com uma tocha que produz concentração de luz, auxiliando-a a dar forma às suas idéias, focalizar. Ele não representa a sua alma, e sim é o guia que a leva a conhecer.
- “Todas as figuras interiores do inconsciente querem viver, e querem fazer isto unicamente através de novas vidas”.
Capítulo 4
- Ver o casamento não só como bem-estar, mas também como oportunidade para a individuação (já que é através dos relacionamentos que podemos trabalhar nossas áreas inconscientes).
- compreender as fantasias que surgem com outras pessoas do que tentar ignora-las. O que nos inquieta sexualmente é uma representação simbólica do que necessitamos atingir para a nossa inteireza.
Fantasias sexuais podem demonstrar, simbolicamente, o que queremos fazer.
- desejamos sexualmente algo que está faltando em nosso desejo consciente.
- 4 arquétipos femininos nas mulheres: mãe (realizar-se alimentando a vida – filhos), hataire (realização nos relacionamentos com os homens), amazona (realização no mundo exterior – trabalho), medium (ponte entre o inconsciente coletivo e a comunidade humana).
Mãe e hataire são orientadas às pessoas, enquanto a amazona está voltada para o mundo exterior e a medium para a psique.
Uma mulher pode ser orientar numa direção e depois em outra.
- As mulheres também precisam se relacionar com a anima. Existem mulheres que irradiam a anima como qualidade sua, e por isso se sentem aparentemente vazias ou com falta de personalidade. O perigo é ela ficar demasiado intimamente identificada com o arquétipo e não conseguir diferenciar sua individualidade.
A contribuição de Jung foi dar-nos a idéia de polaridade que existe em cada um de nós. Estes opostos estão eternamente em tensão buscando a união.
“O desejo que a alma tem de unir-se à consciência e forjar uma personalidade indivisível e criativa é o que há de mais forte dentro de nós” (p. 148).
- “Em última análise, os opostos só se podem unir dentro de uma personalidade individual. A união do masculino com o feminino não pode ralizar-se enquanto, inconscientemente, projetamos uma metade de nós mesmo num parceiro humano e pomos em ação a outra metade”. (p. 148)
- Reconhecer as projeções e diferenciar o amor divino e o amor humano, ambos importantes.
- Cântico dos cânticos (coniunctio) = representa a união da consciência com a alma.
Apêndice: a imaginação ativa
“Tomem o inconsciente numa de suas formas mais acessíveis, isto é, uma fantasia espontânea, um sonho, um estado de ânimo irracional, um afeto, ou algo parecido, concentrando-se sobre ela e observando as suas alterações objetivamente. Não poupem esforços ao se devotarem a essa tarefa, sigam atenta e cuidadosamente as transformações subsequentes da fantasia espontânea. Em particular, não deixem que nada de fora, aquilo que não pertence ao inconsciente, entre, porque a imagem da fantasia possui tudo o que é necessário. Dessa forma estamos certos de não interferir com inclinações conscientes e de dar ao inconsciente um curso livre”. (C. G. Jung, Mysterium Coniunctionis, CW14, Princeton University Press, Princeton, N.J., 1963, 1974, p. 526. (pag 158 do livro).
“Este processo pode, como disse, acontecer espontaneamente ou ser induzido artificialmente. Neste último caso, você escolhe um sonho ou alguma outra imagem da fantasia, e se concentra sobre isso, simplesmente apoderando-se dele e olhando para ele. Pode também usar um mal-humor como ponto de partida e logo tentar achar que tipo de imagem fantasiosa ele vai produzir, ou que tipo de imagem esse humor manifesta. Você fixa então essa imagem na mente, concentrando a sua atenção. Normalmente ela mudará, sendo que o simples dato de contemplá-la lhe dá vida. As alterações devem ser cuidadosamente anotadas durante o tempo todo, porque elas refletem o processo psíquico, pano de fundo do inconsciente, que aparece sob a forma de imagens, revestidas do material fornecido pela memória consciente. Desta forma, conciente e inconsciente estão unidos, assim como uma queda d´água une o “acima” e o “abaixo”. (Ibid, p. 495). (pg 159 do livro).
“O principal valor da análise é que ela nos proporciona uma orientação consciente e uma certa perspectiva”. (p. 156). A análise psicológica sozinha não cura a alma. É necessário estabelecer e manter vivo o relacionamento progressivo com o mundo interior.
Imaginação ativa = focalizar uma imagem, voz ou figura do inconsciente e entrar em interação com a mesma. Importância de escrever para dar realidade, para fortalecer o ego e para encarar coisas difíceis.