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A revolução do amor

Autor: Luc Ferry (1951 -    ), filósofo francês

Gênero: Filosofia

Ano: 2010

Quando ganhei este livro da minha mãe tinha acabado de terminar um relacionamento longo e a última palavra que eu queria ouvir era "amor" ou qualquer coisa relacionada a ela. Porém, logo chegou o inverno e os dias de chuva me fizeram procurar alguma atividade dentro do barco. Desde o término da faculdade de psicologia eu não tinha mais tocado em livros de filosofia ou psicologia e o "Revolução do amor" foi uma ótima oportunidade para voltar a refletir sobre o a existência e o pensamento humano. Alem disso, sendo apaixonada pelas obras do passado, raramente me pego lendo algo que trate do presente (a não ser jornais e reportagens), e foi muito reconfortante sentir-me acompanhada em minhas divagações acerca do contemporâneo

 

Luc Ferry critica as teorias pessimistas que vêem o século XXI como um momento de perda de referências e esvaziamento de sentido, defendendo que a crise dos valores tradicionais nos levou a uma nova visão de mundo. Passeando pela filosofia, política e religião o autor demonstra como chegamos no que ele chama de "espiritualidade laica", na qual o maior valor é o amor.

Alguns trechos do livro

PARTE 1: THEORIA

  • Bougisme: agitação contemporânea

  • “Le blues du businessman”, Claude Dubois

  • Canção de Aznavour - vida de boemia (La bohème)

  • Filmes antigos: Les disparus de Saint-Angil e Topaze

  • Vida de boemia:

    • 1º uso: “Historietas” de Tallemant, descrever dândi, século XVII.

 

  • romantismo: George Sand - se torna popular. Designa “roms” (Aqueles que viajam e não criam raízes. Acreditava-se que eles viessem da Boêmia.) e, por analogia, aos vanguardistas que eram de certa forma desenraizados.

 

  • 1844. Balzac, excentricidade, marginalidade. Aspiração a uma vida “não burguesa”, livre e liberta de convenções. Não quer o dinheiro nem o sucesso social, é um revolucionário herdeiro de 1789. Quer destruir o antigo regime para fazer uma criação autêntica (arte genial).

    • herdeiros de Descartes e revolucionários franceses, libertar-se da história (Rabaut Saint-Etienne)

    • poetas Gerard de Nerval (la bohème galante), Théophile, Gauthier, Pétrus Borel. 1º é “Cenas da vida boêmia”, de Heinrich Mürger (alemão que vivia em Paris), tornou-se La Bohème, de Puccini.

    • Saint Simon: 1º a usar o termo “vanguarda” sem sentido militar. Se vêem em quadros de Cézanne, versos de Richepin, música de Brassens. 

    • Habitam margens do sistema: x camponeses e x burgueses.

    • agrupamentos: diversos nomes; contemporâneos do ambiente do declínio. 

      • muitos tipos mas com a JUVENTUDE como ponto em comum. Culto à juventude, seguirá no século XX.

      • individualismo revolucionário (diferente das tribos tradicionais)

      • 1º grupo vitorioso: Bateu-Lavoir (Picasso). Dadaísmo (tristan Tzara, 1930), situacionistas (1950), Maio de 68 (democratização do vanguardismo boemio).

      • Principal pensador: Nietzche, “filosofia do martelo” (niilismo) 

    • mudança de valores construída pelos boemios: reconciliação entre vanguarda e burguesia

(movimentos complementares, e não opostos)

 

  • 2 globalizações

    -1ª: compreensão racional = pretende a universalidade. Ligação intelectual entre todos os seres humanos. Objetivo era “dominar a natureza”

    - 2ª: competição global = necessidade de renovar o tempo todo (mas fazendo-o sem sentido, só pela competição). 4 consequências:

        - perda radical do sentido da história

        - perda do controle sobre o mundo (políticas nacionais não movem); os mercados financeiros controlam (mercantilização do mundo, hiperconsumo). Hans Jonas, “O princípio da responsabilidade”.

        - hiperconsumo: Individualização do consumo; tudo vira mercadoria (cultura, religião, política, etc)

        - contradições morais (na vida pessoal busca os valores tradicionais mas trabalha para desconstruí-los).

 

NOVO HUMANISMO

  • Philippe Ariès - “História das mentalidades”

    • casamento não se baseava no amor

    • como nasce o casamento por amor? Edward Shortes, “O nascimento da família moderna”.. Pessoas deixam a aldeia e o campo para trabalhar na cidade. Liberam-se dos olhos dos outros e adquirem autonomia financeira (se livra do comunitarismo). 

  • Globalização liberal: desconstrução da tradição (devido à competição e inovação constantes) e união amorosa livre / socialização do humano.

  • Consequências da escolha da união amorosa:

    • divórcios aumentam

    • laicismo (distanciamento da igreja)

    • surge a vida privada

    • surge o amor parental (incondicional e superior aos outros)

    • privado se torna fator de abertura para o público

 

  • 2 humanismos:

    • 1º humanismo: Kant e Voltaire, direito e razão = humanismo da nação. Humanização da civilização (européia), nações esclarecidas. Desconstrução: 1968/1970 (reivindicação dos direitos das minorias).

    • 2º humanismo: do amor, transcendência do outro. Passa a um universalismo mais abrangente. Laço entre busca de autonomia, “pensar por si mesmo” e auto-reflexão da ciência histórica.

 

PARTE 2: MORAL

 

  • 2º humanismo não renuncia ao 1º (preso aos princípios da república = Estado de direito, liberdade, racionalidade científica), mas integra desconstrução das tradições e desenvolvimento das esferas privadas (socialização do humano)

 

I - Ética aristocrática dos antigos: 3 princípios fundamentais

    a - cosmológico-ético. Cidade justa reflete hierarquia natural. 3 classes: dirigentes (inteligência), soldados (coragem) e artesãos (temperança). Corresponde às três partes da alma e às três partes do corpo. Princípio cósmico é ininteligível (acessível) e divino (não criado pelos homens), mas natural.

    b - virtude é um prolongamento harmonioso das disposições naturais. Virtude não tem relação com a força de vontade e sim com a herança e educação (que é finita)

    c - trabalho não é moralmente valorizado (por ser algo que domestica a natureza em nós e fora de nós). Não trabalham, não transformam uma natureza que é em si excelente.

 

II - Moral judaico-cristã (teológico-ética)

    Parábola dos talentos. Dignidade não depende dos dons naturais, mas da vontade e liberdade. 4 princípios:

    a - idéia de igualdade: desigualdades naturais, mas igualdade moral (liberdade)

    b - fins que não habitam mais a natureza : fins se opõe às indignações de sua natureza (trabalho, não exercícios). Muda o significado de trabalho.

    c - trabalho passa a ser hominização do homem - monges trabalham como camponeses,

    d - religião que permite o laicismo (cada um julga saber sobre o bem e o mal).

 

III - Moral republicana

    Distinção entre o bem e o mal apoiada no homem como tal. Revolução científica questiona cosmologia e teologia. Leva o homem a si mesmo. 

 

1- Pico della Mirandola - “Discurso sobre a dignidade” - 1486. Mito de Prometeu (homem é o único que não é “prefigurado”). Liberdade

2- Antes de Pico: humanismo de Pitágoras. “Não existe história verdadeira sem linguagem, como ela também não existe sem liberdade.” (p. 158)

3 - Evolução do humanismo: Rousseau, Kant, Sartre.

    - Rousseau: animal ≠ homem (liberdade) - capacidade de se emancipar. Natureza x história (para onde caminha o “progresso” da humanidade?

    - Kant: em quê enraizar uma nova ordem? Na vontade do homem (construída pela liberdade). Ética = desinteresse e universalidade. Desinteresse = moral antinaturalista. Bem comum = distanciar de si mesmo para se aproximar dos outros.

    - Existencialismo e fenomenologia: contra religião e marxismo (que pensam em uma essência que precede a existência).

    

    - Implicações fundamentais do 1º humanismo: antiracismo, laicismo e antisexismo: não existe “natureza” do ser humano em geral; tem uma natureza e uma história mas não “é” nenhuma delas. Libertar-se de sua origem para elevar-se (melhorar. Parábola dos talentos). Valorização do trabalho. Promete mundo da democracia, república, razão e progresso.

 

PENSAMENTO NEO REPUBLICANO

  • ideologia etnocentrica e imperialista inerente ao 1º humanismo (aceitação do colonialismo e racismo).

  • desconstrução século XX (críticas que levarão ao 2º humanismo):

    • 1: anticolonialismo. Historicidade do homem o opõe ao animal - colonialismo = primitivos se mantiveram fora dessa historicidade e, portanto, devem ser educados (“humanizados”). Não se trata de uma universalidade total porque separa aqueles que “não entraram totalmente para a história”). 

    • 2: Nietzsche (niilismo perfeito). Visões morais do mundo são marcadas pelo niilismo. 

Nihil = nada. Usado por Nietzsche para designar os ideais, ídolos que possuem estrutura metafísico-religiosa (inventados para dar significado à vida). Carregado de convicções fortes morais. Idealismo x niilismo (denuncia ideal em nome do real)

 

  • Humanismo leigo e cristianismo se parecem, porque concentram o espírito do niilismo (estrutura do ideal oposto ao real). Em um primeiro momento o racionalismo põe fim a algumas ilusões da igreja, para depois reinventar ideais superiores. 

    - Nietzsche crê que é preciso livrar-se do IDEALISMO, reconciliar-se com o real.

    - O que vem depois? Ideologias do direito à diferença (IV) e segundo humanismo (V)

 

IV - Culto da autenticidade e da diferença

  • 1960 - individualismo revolucionário, desconstrução do “tradicional” em nome de utopias radicais, cuja matriz principal foi fornecida pela vida boêmia. Antiaristocratismo (igualdade democrática, direito de ser o que se é) e antirepublicanismo (considera alienante. Creen que o objetivo da escola seria tornar os seres o que eles são). 

  • Renovação pedagógica: pedagogia do trabalho X pedagogia do lúdico e auto-construção.

    • polêmica remonta século XVIII (“Emilio”, de Rousseau)

    • Kant: liberdade total (anarquia); pedagogia do treinamento convém para os animais para Kant; cidadania republicana do trabalho (unir liberdade e disciplina. Contrato social: cidadão é ativo e passivo - vota leis, mas deve obedecê-las -. Ideais transcendentes). 

    • individualismo democrático-revolucionário. “(…) o essencial não é mais confrontar com normas coletivas exteriores, verdadeiramente “imponentes”, mas alcançar a expressão da própria personalidade” (p. 191)

    • normatividade = alienação. Culto da diferença. Rejeição da uniformidade característica da globalização.

    • aprender a ressingularizar (Felix Guattari)

    • liberalismo libertário da autenticidade X universalismo, espaço público.

    • como as 4 primeiras visões morais se mantém atuais. Por exemplo, ainda se colocam crianças para estudar artes ou esporte.

 

V - Segundo humanismo

  • transcendência NA imanência (relação com a exterioridade com origem na interioridade)

 

1- dos direitos do homem à ação humanitária.

  • 1º humanismo - universalidade restrita a uma nação ou comunidade

  • 2º humanismo - universalidade universal. Não permitir que se faça o mal ao outro.

 

2- Amor e ódio supõe liberdade (= libertação da natureza)

Excesso que não se inscreve na lógica natural.

3- Transcendência NA imanência

Não existe fundamento último. Fenomenologia da exterioridade. “(…) seu princípio fundador é que não inventamos a verdade, a justiça, a beleza ou o amor (…), nós os descobrimos em nós mesmos (…) sem que possamos identificar-lhes a origem ou o fundamento último dessa doação.” (p. 217)

 

PARTE 3: ESPIRITUALIDADE

  • Cosmológico-ética = “lugar natural” no universo.

  • Teológico-ético = mandamentos divinos

  • Século XVIII - 1º humanismo - Estado de direito - nova ordem justa. Segundo humanismo -conciliação mais ampla.

  • 2 noções de fraternidade - solidariedade (republicana, Estado) e coração (afetiva, carnal)

  • 3 esferas da vida: filosofia (espiritualidade laica), arte e política

 

  • Espiritualidade laica

  • Valores morais (como nos comportamos com o outro) X valores espirituais (relacionados com amor, morte, luto, etc). 2 tipos de valores espirituais: com Deus (religiões) e sem Deus (filosofia)

  • 1º caso de espiritualidade laica = Ulisses. Objetivo de Poseidón era fazer com que Ulisses esquecesse o sentido da viagem. Ulisses nunca vive o presente, sempre está no passado ou futuro (antípoda de Carpe Diem). O fim da vida não é a morte, mas aceitar nossa condição de mortais, “alcançar a vida boa nessa terra.” (p. 239)

  • Noção de espiritualidade repousa sobre 3 critérios fundamentais:

    • aceitar nossa condição de mortais

    • passado e futuro são focos de angústia; viver no presente

    • vencer os medos para alcançar a serenidade

    • Nietzsche retoma no conceito de AMOR FATI

  • Condição do homem moderno (diferente dos gregos):

    • nova relação com a morte (mais expostos e menos protegidos)

    • sabedoria cósmica X sabedoria do amor (universal, reorganização dos valores antigos, compromete a totalidade do ser humano)

 

I - Revoluções da filosofia

  • psicanálise X filosofia

    • contradição entre o amor e a morte - Gilgamesh. Objetivo = glória, eternidade.

  1. Estóicos: tudo se baseia no Cosmos. 

    - castração de Urano = nascimento do espaço e do tempo. Kronos + Reia = 6 filhos (Zeus é o mais novo)

    - guerra dos deuses = titãs X olímpicos (erradicar forças caóticas). Dividir o mundo segundo a justiça. Cosmos é divino e lógico. Fusão com o cosmos = ser fragmento da eternidade,

    - preparação para a morte = 3 princípios : não apego, tudo se transforma / não se perde , diferenciar o que depende de nós (moral) ou não.

 

2. Epicuristas: medo da morte é absurdo.

    - medo da morte ligado ao modo errado de habitar o tempo.

    - lógica do desejo é movida pelo medo da morte, mas é o que nos faz morrer antes do tempo.

        - solução = limitar-se aos desejos naturais e necessários, admitir os naturais não necessários.

    - filosofia e religiões: análogos mas não idênticos. “Salvar” os homens.

 

3. Buda: ao refletir sobre a morte damos sentido à vida.

    - crítica da esperança, elogio do des-espero;

    - libertar-se do eu (porque o espírito é impessoal)

    - vida monástica: retirada dos apegos amigáveis e familiares.

 

4. Schopenhauer: 1º humanismo (espiritualidade deixada às religiões ou criação de religiões de salvação terrestre).

    - Nossa existência é desprovida de sentido. 

    - vontade (“essência”) X representação (individualidade, consciência)

    - fazemos parte de uma comunhão eterna, por isso não devemos temer a morte

 

5. Cristianismo: morte da morte = ressurreição

    - imortalidade da alma, reivindicação do corpo, salvação pelo amor.

    - amor do apego quando o objeto é divino.

 

CONCLUSÕES

  1. Aprender a viver no presente

  2. Amamos algo insubstituível

  3. Amor da sentido NA existência

  4. Antinomia - Tristão e D. Juan.

 

II - Arte e política

  1. Revoluções da arte: arte passa para o sensível (não pela racionalidade)

  • Arte grega = concepção harmônica do universo

  • Medieval = esplendores do divino

  • Reforma protestante = cenas cotidianas, humano no centro

  • Atualmente = apresentar o “inapresentável”; invenção radical, originalidade

- Virtude da vanguardia =liberar dimensões humanas (2º humanismo)

Livro de visitas

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