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Mulheres que correm com os lobos

Autor: Clarissa Pinkola Estés (1945 -  ), psicóloga junguiana, escritora e poetisa norte-americana.

Gênero: Psicologia analítica (Jung)

Ano: 1992

   

Ouvi o nome deste livro inúmeras vezes da boca de amigas e conhecidas, sempre dito com certa admiração. Quando dei de cara com ele na estante de minha mãe foi como encontrar um tesouro, já que nunca tinha visto algum nas prateleiras dos sebos. O tamanho assusta um pouco, mas ao virar as primeiras páginas percebi que seria uma viagem longa e agradável.

 

Cada capítulo começa com uma história, um conto, fazendo aflorar sentimentos e sensações, nos colocando em um ambiente e dimensão propícios para entrar em contato com as palavras de forma menos racional. Cada capítulo vai revelando aspectos diferentes do arquétipo da mulher selvagem, o que nos leva a um diálogo com as nuances de nossa própria existência.

 

Gostei do livro porque aborda o universo feminino de forma positiva e profunda, resgatando aspectos de nossa existência que muitas vezes não compreendemos ou deixamos de lado.

Alguns trechos do livro

Capítulo 1- O uivo: a ressurreição da mulher selvagem

História “La loba”

“Hoje, la loba dentro de vocês está recolhendo ossos. O que ela está recriando? Ela é o Self da alma, a construtora do lar da alma”, (p. 54)

 

Capítulo 2 – A tocaia ao intruso: o princípio da iniciação

História “O barba azul”

“O barba azul simboliza um complexo profundamente recluso que fica espreitando às margens da vida da mulher, observando à espera de uma oportunidade para atacar”, (p. 63).

“O conto de fadas trata da transformação de quatro introjeções sombrias que, para as mulheres, são objeto de controvérsia: não veja, não tenha insight, não fale, não aja. Para expulsar o predador, precisamos fazer o contrário”, (p. 96).

 

Capítulo 3 – Farejando os fatos: o resgate da intuição como iniciação.

História “Vasalisa, a sabida”.

    “Vasalisa é uma história da transmissão da bênção do poder da intuição das mulheres de mãe para filha, de uma geração para outra”, (p. 106). 

    Realização das tarefas para restabelecer a intuição (relação de confiança com “a mulher que sabe”, Baba Yaga).

  1. Permitir  a morte da mãe boa demais

  2. Denunciar a natureza sombria (diferenciar o que é bom do que não é; não aceitar a submissão à madrasta)

  3. Navegar nas trevas (confiar na intuição)

  4. Encarar a megera selvagem (ser capaz de aguentar o que sabemos)

  5. Servir o não racional (Vasalisa aprende a ser como Yaga fazendo suas tarefas)

  6. Separar isso daquilo (diferenciar coisas de natureza semelhante)

  7. Perguntar sobre os mistérios, mas aceitar que há coisas que estão fora do nosso alcance

  8. De pé nas quatro patas (aglutinar todo o seu poder e ver o mundo através desse novo enfoque)

  9. Reformular a sombra (deixar viver e deixar morrer, dificuldade de manter a intuição no consciente).

 

Capítulo 4 – O parceiro, a união com o outro

História “Manawee” (homem do cachorro que queria casar com as duas irmãs).

    “(...) a tarefa primitiva do homem consiste em descobrir os nomes verdadeiros da mulher, não em usar indevidamente esse conhecimento para ganhar controle sobre ela, mas sim, para captar e compreender a substância numinosa de que ela é feita, para deixar que ela o inunde e surpreenda, o espante e até mesmo o assuste”, (p. 65).

 

Capítulo 5 – A caçada: quando o coração é um caçador solitário

História “A mulher esqueleto”.

    “É assim que o relacionamento amoroso deveria funcionar, com cada parceiro transformando o outro”.

 

Capítulo 6 – A procura da nossa turma

História “O patinho feio”.

    “Descobrir com certeza qual é a sua verdadeira família psíquica proporciona ao indivíduo a vitalidade e a sensação de pertencer a um todo”, (p. 217).

    Tipos de mães: ambivalente, prostrada, mãe sem mãe, mãe forte. Soltar das mãos o arquétipo do “sobrevivente”.

 

Capítulo 7 – O corpo jubiloso: a carne selvagem.

História “La mariposa”, “A mulher borboleta”.

Mulher selvagem em corpos muito diferentes. 

 

Capítulo 8 – A preservação do self: a identificação de armadilhas, arapucas e iscas envenenadas.

História “Os sapatinhos vermelhos”.

    “A vida expressiva da mulher pode ser sondada, ameaçada, roubada ou seduzida a não ser que ela se mantenha fiel à sua alegria básica e ao seu valor selvagem, ou que os resgate (...). Sem uma firme participação da natureza selvagem, a mulher definha e cai numa obsessão pelo que a faz se sentir melhor”, (p. 275-276).

 

Capítulo 9 – A volta ao lar: o retorno ao próprio self.

História “Pele de foca, pele da alma”.

    “Ocorre no processo de individuação de praticamente todo mundo pelo menos um caso de roubo significativo (...) esse roubo crucial se abate sobre a pessoa vindo de onde ela não espera”, (p. 329).

    “É com o amor e o cuidado com nossas fases naturais que protegemos nossa vida para que ela não seja arrasada pelo ritmo de outra pessoa (...)”, (p. 371).

    Solidão voluntária = colocar questões para a alma. Manter nossa vida em terra firme mas ter espaço para a “volta ao lar”. 

 

Capítulo 10 – As águas claras: o sustento da vida criativa.

História “La llorona”.

    Compreendida como a imagem da deterioração do fluxo criador. Aceitar elogios sinceros acerca da sua vida criativa (repelir o “animus maligno”, substituir por um que aja com mais limpeza), sensibilidade ao que acontece para poder criar (ser sensível a tudo o que nos cerca), não represar o rio (permitir que qualquer coisa venha), começar quantas vezes for necessário (sem medo de fracassar), proteger seu tempo e sua vida criativa.

 

História “A menininha dos fósforos”.

    Três tipos de fantasia: fantasia do prazer (destinada à fruição), formação intencional de imagens (planejamento, veículo para nos levar a agir) e fantasia que paralisa tudo. A menina faz fantasias vãs; é necessário encontrar um lugar onde nossas ideias tenham apoio.

 

História “Os três cabelos de ouro”.

    Trata de quando perdemos o fogo criativo. O animus se cansa e, nesses momentos, é necessário se concentrar e ficar imóvel, embalar a ideia, renova-la.

 

Capítulo 11 – O cio: a recuperação de uma sexualidade sagrada.

    “A sexualidade pode ser imaginada como um bálsamo para o espírito, sendo, portanto, sagrada. Quando o riso sexual é medicinal, ele é um riso sagrado”, (p. 429).

 

Capítulo 12 – A demarcação do território: os limites da raiva e do perdão.

História “O urso da meia lua”

    “O conteúdo dessa história nos diz que a paciência ajuda a aliviar a raiva, mas a mensagem maior trata do que a mulher deve fazer para restaurar a ordem da psique, curando com isso o self enfurecido”, (p. 436).

    Modelo para tratar a raiva e se curar dela: procura de uma força restauradora calma e sábia, aceitação do desafio de entrar num terreno psíquico que nunca havíamos abordado, reconhecimento das ilusões*, descanso propiciado aos velhos pensamentos e sentimentos obsessivos, agrado ao grande self compassivo, a compreensão do lado furioso da psique compassiva. 

Aprender com a raiva

    Dispersar ilusões como “sou boa, por isso serei aceito” ou “se eu perder minha raiva, ficarei mais fraca”. Ilusões são contestadas pela procura, pela pergunta.

    Não basta entender, devemos praticar o que aprendemos. “Nenhuma de nós pode fugir inteiramente da nossa história. Sem dúvida, podemos mantê-la num segundo plano, mas ela está ali do mesmo jeito. (...) Cada vez você lidará melhor com ela”.

 

História “As árvores ressecadas”.

    Trata de saber o momento que também é necessário liberar a raiva.

Descansos: examinar a vida e marcar os pontos em que ocorreram pequenas ou grandes mortes (ocasiões em que se optou por não seguir por uma estrada, caminhos obstruídos, emboscadas, traições, mortes). “Esquecido” (pontos pressentidos que ainda não vieram à tona), “perdoado”, pontos a serem pranteados e pontos que devem ser abençoados.

    Raiva como forma de ganhar força é bom por um tempo, mas depois equivale a carregar uma raiva constante. Cura é o perdão (dizer a nossa verdade, o mal causado, a raiva e revolta e o desejo da autopunição ou vingança evocada). Quatro níveis de perdão: deixar passar, controlar-se, esquecer, perdoar.

 

Capítulo 13 – Marcas de combate: participação no clã das cicatrizes.

História “A mulher dos cabelos de ouro”.

    Importância de revelar os segredos (“sair daí mais profunda, com o total reconhecimento de quem somos e plenos de uma nova vida”, (p. 475).

    Capote expiatório (casaco que descreve os insultos que a mulher sofreu). Prova das derrotas e vitórias, dos combates, da resistência.

 

Capítulo 14 – La selva subterrânea: a iniciação na floresta subterrânea.

História “A donzela sem mãos”.

    1º. estágio: pacto sem conhecimento (pai representa o ideal coletivo que pressiona as mulheres a serem murchas). É preciso que a dor se torne consciente para poder lidar com ela.

    2º. estágio: a mutilação (acabou-se a vida como a conhecíamos, mulher perde o jeito habitual de lidar com a vida).

    3º. estágio: a perambulação (não sabemos para onde vamos, mas “algo” nos acompanha).

    4º. estágio: encontrando o amor no outro mundo (coroada rainha da vida e da morte, ponto em que somos amadas mas devemos seguir na descida).

    5º. estágio: o tormento da alma (as forças sagradas que encontramos devem ser abandonadas em algum momento).

    6º. estágio: o reino da mulher selvagem (mulher recupera mãos, recupera palmas que ajudam a ver e a moldar sua vida novamente).

    7º. estágio: o noivo e a noiva selvagens (o animus também sofre uma transformação).

 

    “A tentativa democrática de assumir o controle da alma fracassou de modo irreversível. A resistência da alma foi testada e aprovada. A mulher passa por esse ciclo uma vez a cada sete anos (...)”, (p. 558).

 

Capítulo 15 – Agir como sombra: canto hondo, o canto profundo.

Livro de visitas

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