
No Amazonas conhecemos Manaus e Presidente Figueiredo (região com parques naturais, cachoeiras e grutas). Depois tomamos o barco até Tabatinga (tríplice fronteira Brasil/Colômbia/Peru), 7 dias de viagem que foram um pouco cansativos mas que nos permitiram conhecer melhor os moradores da região. Já na primeira hora de viagem vimos os botos que nadavam na proa do barco e passamos pelo famoso "encontro das águas" que dura apenas alguns minutos quando se cruza em um barco a motor... Durante a viagem, imaginei que ia poder ver diversos animais selvagens, mas na verdade só via as árvores balançando ao longe, na costa, e aquela água escura do rio.
O barco fez diversas paradas e numa delas pude ver um filé de pirarucu que estavam carregando para o nosso jantar (foi difícil acreditar que puedesse existir um peixe daquele tamanho!). Também em cada porto, subiam mais e mais pessoas e a quantidade de redes penduradas ia aumentando, criando camas onde parecia não caber mais ninguém. As refeições estavam incluídas no pacote e comíamos em turnos em uma grande mesa. Com o passar dos dias, a relação entre os viajantes ia se tornando mais próxima, já que dormíamos juntos (todas as redes ficam penduradas, uma ao lado da outra, ao longo do barco), comíamos juntos e passávamos o dia juntos. Quão diferente é viver em um lugar onde só é possível chegar de barco, onde a cor da pele é visivelmente importante (muitas meninas falavam que queriam ser como eu, simplesmente por ser branca) e onde ter cobras como bicho de estimação é algo usual (um menininho de uns 5 anos passou a tarde me contando dos bichinhos com os quais brincava no seu quintal e era inacreditável ver o quanto ele conhecia sobre os animais, sabendo de coisas que só eu só aprendi nos livros da escola). Talvez a única coisa que tenha me incomodado foi ver como as pessoas jogavam o lixo no rio sem a menor dor na consciência: garrafas de refrigerante e copos, sacos de batatinha, embalagens de chocolate... Quando perguntei a um senhor se ele não se preocupava com o meio ambiente, ele me disse: tudo vai acabar no rio mesmo! Isso me fez pensar bastante sobre o destino do lixo das cidades.
Passamos a noite em Tabatinga, na casa de uns brasileiros que conhecemos no barco e passeamos um pouco pelo lado colombiano (que não se diferenciava tanto do brasileiro, a não ser pela moeda). No dia seguinte, fizemos um churrasco e depois foram outras 7 horas em lancha até chegar em Iquitos. Conhecemos um pouco da amazônia peruana na visita ao Complexo turístico Quistococha, que é uma espécie de zoológico, onde alguns animais ficam soltos. Na pousada, conhecemos um grupo de argentinos que ia participar de um ritual xamânico de ayahuaska e decidimos ir também. Tomamos uma pequena lancha e depois percorremos um caminho que passava por diversas comunidades, chegando a uma cabana de madeira que ficava no meio da floresta. Foi o momento em que consegui entrar mais em contato com a natureza. À medida que ia anoitecendo, os sons dos bichos iam aumentando em volume e profundidade: o zumbido dos mosquitos, os gritos dos pássaros, sons de animais desconhecidos... Foi uma experiência inesquecível!
De Iquitos só era possível sair de barco ou de avião, então compramos um vôo a Lima, onde passamos apenas algumas horas (queria distância da cidade grande..). Tomamos um ônibus que praticamente deu a volta no país para chegar a Cuzco, e desde a janelinha foi possível ter uma idéia da diversidade geográfica do Peru. Cuzco é linda, com suas casinhas em meio à montanha. Comemos uma sopa de frango tomando mate de coca (chá) no mercado central e depois experimentamos a cusqueña, cerveja local. Nos dias seguintes, percorremos o Camino del Inca (4 dias de viagem) até o Machu Picchu ("Montanha velha", em quechua), que apesar de turístico não deixa de ser surpreendente e surreal. A subida até a montanha foi bem íngrime, mas valeu a pena: quando chegamos, era bem cedo e tudo estava coberto de neblina. Aos poucos, as núvens foram se dissipand,o, formando um anel ao redor da montanha e revelando a paisagem que nos rodeava.
De Cuzco, tomamos um ônibus até Copacabana, aonde estavam acontecendo as festas de carnaval. De lá, tomamos um barco até a Isla del Sol (Lago Titicaca), onde acampamos uns dias antes de chegar a La Paz. Na Bolívia, visitamos Oruro, o incrível Salar de Uyuni (onde o sal e a água juntos se tornam um uespelho) e Santa Cruz de la Sierra, de onde tomei o avião de volta para São Paulo (sã e salva!)

“Agora vamos partir. Manaus, Manaus! Em breve estaremos lá em cima e esta cidade que durante alguns dias me desnorteou com suas contradições, me entusiasmou com sua grandeza, me deprimiu com seus problemas, me seduziu com seus encantos não será mais do que um ponto de luz cercado pela escuridão. De luz e de esperança”. (Fernando Sabino)

Este livro foi um ótimo companheiro de viagem! Nele o autor descreve o impacto de visitar Manaus por primeira vez. Foi escrito em 1976, mas senti que muitas coisas continuam similares, tanto na cidade quanto nas sensações de quem chega.
Ao planejar a ida para Manaus senti como se estivesse partindo para alguma cidade lendária. Escutava falar dos insetos que podiam matar com apenas uma picada, dos indígenas que atacavam turistas, da rodovia Transamazônica (único acesso por terra mas aparentemente inexistente), dos botos e seres da floresta... Pensei que o melhor seria ver com meus próprios olhos então tomei a vacina contra a febre amarela, fiz uma pequena "farmácia" com Vitamina B e antialérgicos e parti. Em apenas um mês visitamos o Amazonas, o Peru e a Bolívia, de forma que chegamos apenas a ter um gostinho da cultura local, que é tão rica.

Manaus

Travessia Manaus - Tabatinga

Travessia Manaus - Tabatinga

Travessia Manaus - Tabatinga

São Paulo de Olivença

Travessia Manaus - Tabatinga

Travessia Manaus - Tabatinga

Travessia Manaus - Tabatinga

Tabatinga

Iquitos

Cebiche/Ceviche em Iquitos

Complexo turístico Quistococha

Avião Iquitos - Lima

Trajeto Lima - Cusco

Trajeto Lima - Cusco